Capítulo Único
null entrou no carro um tanto apressada, pois mais uma vez estava atrasada para faculdade. Não conseguia mais contar os motivos que faziam com que a garota nunca chegasse na hora, não só onde estudava, mas em qualquer lugar. Após jogar sua bolsa no banco do carona, encaixou a chave na ignição para que pudesse sair da garagem e a mesma não deu sinal de vida.
— Hoje não garotinho, por favor! — ela esfregava sua mão no volante, nervosa.
Com um suspiro frustrado, a garota tentou novamente ligar o carro, mas nada aconteceu, o motor parecia completamente morto. Levou alguns segundos para que ela decidisse sair do veículo, pegasse sua bolsa e a colocasse sobre os ombros, murmurando algumas palavras em completa irritação.
— Pai! — gritou e o ele chegou correndo na garagem.
— O que está havendo? — o homem questionou assustado.
— Está quebrado! — disse apontando para o carro. — De novo! — sorriu sem mostrar os dentes.
— De novo? Mas você acabou de consertá-lo! — exclamou o pai, franzindo a testa, indignado.
— Eu sei, pai! — ela bufou, irritada. — Mas você sabe que esse carro tem vontade própria. — revirou os olhos.
— Não tenho como olhar isso agora. — ele gesticulou com as mãos, mostrando o terno.
— E o que eu devo fazer? — perguntou enquanto retirava a bolsa do carro.
— Prometo que olhamos mais tarde! — falou com sinceridade.
— Pode pelo menos me levar para faculdade? — a garota implorou.
Antes que o pai dela a respondesse, uma buzina chamou a atenção dos dois.
null. O melhor amigo dela acenava depois de tirar o capacete.
Os dois se conheciam desde que eram crianças, cresceram na mesma vizinhança e frequentaram a mesma escola desde o jardim de infância. E mesmo com tantas semelhanças, null sempre foi o oposto de null em muitos aspectos. Enquanto ela era impulsiva e estava sempre correndo para chegar a algum lugar, ele era mais calmo e tranquilo, sempre pronto para ajudar os outros.
Os pais dele se mudaram da Coreia para Los Angeles antes que o rapaz nascesse, então ele cresceu imerso em duas culturas, o que lhe conferiu uma visão única da vida, muito conhecimento, e preconceito da parte de alguns ignorantes por conta dos seus traços étnicos que eram impossíveis de passarem despercebidos.
O preconceito, inclusive, foi um dos motivos para que null se aproximasse dele. Aconteceu depois que a mãe da garota defendeu a mãe dele em uma discussão com um dos vizinhos e logo se tornaram amigas. Com o passar dos anos e a aproximação demasiada dos filhos, já se consideravam família, era normal viajarem ou estarem juntos no finais de semana.
Então, no meio de toda aquela frustração com o carro, a presença confiável de null era puro conforto.
— null! — Dave sorriu aliviado.
— O quê? Mas, pai, sabe que eu odeio motos! — a garota choramingou, percebendo que o homem a abandonaria ali.
— Me desculpa, princesinha! — ele encostou a mão no ombro dela. — Tenho uma apresentação. Se eu te deixar na faculdade, perderei o horário.
— Acho que não tenho muita escolha, certo? — ela respondeu desapontada.
— Obrigado e eu amo você! — sorriu. — Obrigado, null! — disse ao garoto que se aproximava dos dois.
— Obrigado pelo que, senhor Dave? — o jovem o fitou confuso.
— A null te explica melhor, preciso ir! — despediu-se e seguiu direção para o carro ao lado do da sua filha.
— Quebrou de novo? — null sinalizou com a cabeça para o automóvel.
Ela apenas assentiu enquanto observava seu pai deixar a garagem.
— Ainda bem que eu trouxe um capacete reserva então. — riu fraco.
— Por que está com um capacete reserva? — questionou curiosa, pois não era comum da parte dele fazer isso.
— O encontro com a Jennifer. — relembrou a amiga.
— Aquela insuportável? — disse com uma expressão de sarcasmo estampado no rosto.
— Sim, aquela mesma. — null confirmou com um sorriso irônico. — Ela insistiu para irmos dar uma volta de moto. Aparentemente, é uma das suas novas paixões.
— Desde quando você cede aos caprichos dela? — null arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Desde quando você se tornou tão implicante? — ele deu um peteleco na testa da garota.
— Desde que você começou a sair com garotas que não tem nada a ver com você. — revirou os olhos, passando a mão no local que agora doía um pouco.
— O que quer dizer com isso? — estreitou os olhos para ela.
— Eu apenas... Eu só acho que ela é o tipo de garota que pode te machucar, que só quer te usar. — ela tentou se explicar, olhando para ele com sinceridade.
— O que não é muito difícil, né? — debochou. — Olha para mim! — deu uma voltinha causando uma risada genuína da parte dela.
— Eu estou falando sério, seu idiota! — o empurrou pelo ombro.
— Eu sei! — ele segurou a mão dela. — Só há uma mulher neste mundo capaz de quebrar o meu coração e ela está bem na minha frente. — a encarou sério.
A morena respirou fundo, tentando ignorar o calor que subiu ao rosto diante das palavras sinceras de null.
— Eu jamais faria isso! — sorriu amigavelmente. — Agora, nós precisamos ir! — tentou desconversar.
Ela odiava quando null tocava nesses assuntos. Embora eles sempre brincassem um com o outro, havia algo na forma como ele falava sobre confiança e sentimentos que a fazia se sentir um pouco desconfortável, como se ela fosse digna de não cometer erros ou algo assim. Ele confiava plenamente nela para qualquer coisa; na cabeça dele, não havia nada que null não pudesse resolver, pois não conhecera alguém tão corajosa quanto ela.
— Sinto muito! Sei que odeia motos. — ele confortou a garota após ambos deixarem a garagem e ela fechar a porta com o controle automático.
Sem mais delongas, null pegou o capacete reserva que null ofereceu e o colocou, ajustando-o firmemente, e subiu na moto atrás dele, abraçando-o com firmeza enquanto ele arrancava suavemente. Apesar do frio na barriga, o senso de liberdade que o vento fresco da manhã causava ao bater no rosto dela a reconfortava.
Enquanto o rapaz dirigia pela movimentada cidade, ela se sentia dividida entre a preocupação com o atraso na faculdade e a sensação de segurança que aquele momento a proporcionava. Por mais que odiasse admitir, havia algo de emocionante em sentir-se tão exposta e vulnerável na parte de trás da moto, agarrada ao seu melhor amigo.
Enquanto paravam em um sinal, null puxou assunto para distrair null de seu atraso iminente.
— Então, sobre aquela festa no sábado... você vai, certo? — perguntou despretensioso.
— Claro que vou. Afinal, quem mais vai ficar de olho em você e suas conquistas amorosas se não eu? — ela brincou.
Ele riu.
— Como eu te aguentei por todos esses anos? Sério? — balançou a cabeça negativamente.
Ela revirou os olhos com um sorriso no rosto.
— Isso não é obvio? — fitou o rapaz pelo espelho retrovisor. — Você me ama!
— Eu acho que esse é o problema! — confessou em meio a uma gargalhada.
O sinal ficou verde e ele se permitiu acelerar, retomando o caminho para faculdade, fazendo com que a garota o agarrasse mais forte, de forma imediata. Enquanto ela sentiu a adrenalina correr pelo corpo com o pequeno susto, null absorveu um tipo de transe ao sentir as mãos da melhor amiga encostarem no seu peitoral com mais força.
— Acho que é melhor você me deixar na entrada principal. Não quero ter que correr tanto para chegar à sala a tempo. — disse ela, levantando a voz para ser ouvida sobre o barulho do vento e do motor.
— Claro, sem problemas. — respondeu null, recuperando seus sentidos reais após ouvir a voz dela e diminuindo a velocidade à medida que se aproximavam do portão de entrada.
Após estacionar a moto, null desceu e retirou o capacete.
— Obrigada mesmo, null. Eu te devo uma! — disse ela, sorrindo para ele enquanto se preparava para partir.
— Vamos comigo na festa de sábado! — pediu.
— Eu já disse que vou! — disse, franzindo o cenho, confusa.
— Eu quis dizer ao meu lado. — retirou o capacete para conseguir olhar para ela melhor e passou as mãos pelo cabelo.
Ela paralisou. Era como ver um Deus a sua frente.
Poderia negar muitas coisas na sua vida, mas não poderia negar o quanto seu melhor amigo era bonito.
— Você... quer que eu vá com você? — a surpresa na voz dela era palpável.
null assentiu, um leve rubor tingindo suas bochechas. Ele parecia um pouco nervoso, algo incomum para ele.
— Claro, seria ótimo ter você lá. — sorriu, sem jeito. — Tipo, você sabe como eu sou quando eu bebo, e quem mais cuidaria de mim? — ele tentou se manter calmo e casual, mas havia uma tensão perceptível.
null estava perplexa. Ela sempre foi o lado impulsivo da amizade deles, sempre correndo de um lugar para outro, nunca pensando muito antes de agir. Mas agora, diante da vulnerabilidade inesperada dele, ela se viu tentando processar seus próprios sentimentos de uma maneira que não estava acostumada.
— Óbvio! Você vai beber! É isso! — falou com a voz um pouco trêmula, e ela se culpou por isso.
— Ótimo. — assentiu. — Você deveria ir para aula, a gente se vê no campus. — ele colocou o capacete de volta e deu partida na moto, preparando-se para partir.
A garota assistiu enquanto ele se afastava, sentindo um turbilhão de emoções dentro dela, se perguntando o que acabara de acontecer. Não era do feitio dele chamá-la para festas, eles apenas se esbarravam no local, mas com esse convite inesperado e um tanto estranho, ela se viu questionando tudo.
Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não era hora para isso, estava atrasada para a aula e precisava correr. Enquanto se dirigia para a entrada da sala de aula, tentou se concentrar nas tarefas do dia. Mas, no fundo de sua mente, uma pergunta persistia: o que o convite de null significava realmente?
Enquanto a aula seguia, null não conseguia evitar olhar para o relógio de minuto a minuto. O tempo parecia se arrastar lentamente, prolongando ainda mais sua agonia. Quando finalmente o sinal tocou indicando o fim da aula, ela se levantou rapidamente, pegou suas coisas e saiu da sala, determinada a encontrá-lo e mais uma vez buscar algum sinal de uma explicação.
Após percorrer o campus, finalmente, avistou-o perto do café universitário, conversando com alguns amigos. Ela se aproximou, sentindo as pernas um pouco trêmulas de nervosismo; era esquisito sentir-se assim, visto que uma situação dessa nunca havia acontecido entre eles.
Foi desconcertante e ambos sabiam disso.
— null! — ela o chamou, tentando soar casual.
Ele se virou para ela, com um sorriso iluminando todo o rosto dele e de repente o coração da garota começou a bater descontroladamente em seu peito.
— null! — ele a chamou pelo sobrenome. — Como foi a aula? — perguntou, parecendo genuinamente feliz em vê-la.
— Foi tranquilo, eu acho. — disfarçou o nervosismo.
— Acha? — questionou confuso.
null respirou fundo e reuniu a coragem para falar.
— null, sobre a festa... — ela começou, mas foi interrompida por um dos amigos do rapaz.
— Ei, null, nós estávamos falando sobre a festa no sábado. Você vai levar a Jennifer? — Jake perguntou com um certo incômodo.
null sentiu uma pontada de ciúmes, mas tentou ignorá-la.
— Na verdade, eu... — null começou a dizer, mas foi interrompido novamente quando seu celular tocou.
Ele olhou para tela e franziu a testa.
— Desculpa, null, eu preciso atender essa ligação. — ele disse rapidamente antes de virar as costas e se afastar.
A garota ficou ali parada, se sentindo completamente confusa e frustrada.
— Aposto que é a Jennifer! — Jake comentou. — Ela é um chiclete! — ele revirou os olhos. — Sinceramente? Sou muito mais você, null! — deu de ombros.
null forçou um sorriso diante do comentário.
— Nós somos só amigos, Jake, todos vocês já sabem disso. — ela encarou o rapaz loiro a sua frente.
Por fora, ela transparecia saber exatamente o que estava dizendo. Mas por dentro, não parecia ter tanta certeza assim.
— Se você diz, né? — ele soltou uma risada irônica.
A garota sentiu uma mistura de irritação e desconforto com o comentário feito pelo loiro, mas optou por não prolongar a conversa. Em vez disso, ela se virou e começou a se afastar, tentando ignorar a sensação de que algo estava mudando entre ela e null.
— null! — seu melhor amigo gritou e no mesmo instante, ela parou e olhou para trás. — Onde está indo? — perguntou.
— Eu não sei exatamente. — respondeu meio perdida.
— Você parece diferente, está tudo bem? — null indagou deveras preocupado.
— Quem era? — questionou o amigo, que devolveu um olhar confuso. — Na ligação, quem era?
— Era a... Jennifer. — ele protelou um pouco para dizer quem era.
— null... — ela respirou fundo antes de continuar. — Posso te perguntar por que não leva ela na festa de sábado? — estreitou os olhos.
null ficou em silêncio por um momento, parecendo considerar cuidadosamente suas palavras. Ele finalmente suspirou e olhou nos olhos dela, a sinceridade evidente em sua expressão.
— OK! Eu pensei em levar, mas depois mudei de ideia. — ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Jennifer é divertida, mas... — ele hesitou, procurando as palavras certas. — Ela não é... — não conseguiu terminar a frase.
— Ela não é...? — null insistiu.
— Olha, ela é muito pegajosa, eu não aguento mais. — bufou.
Então, finalmente, null percebeu do que aquilo se tratava. Por um momento, ela realmente se deixou acreditar que seu melhor amigo poderia vê-la de outro jeito. Não que ela quisesse isso, mas a possibilidade mexeu com ela, porém, null estava apenas querendo despistar Jennifer e para isso precisaria de outra garota, vulgo ela.
— Você é inacreditável, null null! — ela revirou os olhos. — É sério que queria me usar?
— Não é dessa forma, null. Eu pensei que se você fosse comigo, ela me deixaria em paz...
— Ou seja, me usar! — ela o interrompeu.
— Não, não! — protestou.
— Foi idiota ao ponto de realmente achar que ela acreditaria que temos alguma coisa rolando? — arqueou as sobrancelhas.
— Bem, ela morre de ciúmes de você, eu achei que... — ele não conseguiu terminar a frase.
— Você achou que eu ia servir de escudo para você? — a morena cruzou os braços, sentindo a raiva crescer dentro dela. — Como se eu fosse algum tipo de ferramenta para resolver seus problemas com a Jennifer?
— null, não é isso... — null tentou explicar, mas ela levantou a mão, interrompendo-o.
— Boa sorte para encontrar alguém que concorde com essa merda, porque eu estou fora! — disse e deu as costas ao amigo, sem chance de ele respondê-la.
Enquanto se afastava, ela se prometeu que não deixaria ninguém, nem mesmo seu melhor amigo, tratá-la como uma segunda opção. Balançou a cabeça, tentando afastar a sensação de traição e frustração. Ela sempre valorizou a amizade com null, mas agora estava questionando tudo.
— Idiota! — murmurou baixinho enquanto caminhava.
Depois disso, ela direcionou-se novamente para sala de aula e é obvio que o dia passou lentamente, as aulas pareciam se arrastar e, apesar de tentar se concentrar nos estudos, seus pensamentos sempre voltavam para conversa com null, e não demorou muito para que seu celular vibrasse.
“Desculpa, null. Eu fui um idiota. Não queria te usar ou te magoar. Eu só estava tentando evitar uma situação desconfortável com a Jennifer. Por favor, me desculpe. Podemos conversar?”
Minutos depois mais uma mensagem chegara.
“null?”
Uns segundos depois, mais uma mensagem aparecia na tela dela.
“Sabe que eu odeio quando discutimos, não me torture :(”
“Não era tortura”, ela pensou.
“Me responde, por favor?”
null suspirou fundo, encarando a tela do celular por alguns instantes antes de decidir como responder. Ela não estava com raiva de null, mas sim decepcionada com a situação toda. Por mais que ele fosse seu melhor amigo, ela não podia simplesmente ignorar o fato de ter se sentido usada e menosprezada.
Depois de um momento de reflexão, ela finalmente digitou uma resposta.
“Eu não sou sua segunda opção null, nem sua, nem de ninguém!”
Logo após enviar o pequeno recado, ela desligou o telefone para que ele não a perturbasse mais. null logo percebeu que as suas mensagens não chegavam mais no telefone dela, não era sua intenção que ela se sentisse assim, nunca cogitaria a sua melhor amiga como um plano reserva, mas a conhecia o suficiente para saber que ela não aceitaria ir à festa se soubesse de Jennifer.
Esperou pela melhor amiga na saída do bloco onde ela estava, mas após uma hora, sabia que a garota havia deixado a faculdade, provavelmente com muito ódio no coração. Ele se sentia terrivelmente culpado por estragar tudo daquela forma, por ter sido um tremendo idiota.
Imediatamente, mandou uma mensagem para Jennifer dizendo que não havia nada entre eles e que ela o deixasse em paz, pois null era mais importante do que qualquer outra pessoa e não era uma opção perdê-la. Ele decidiu ir até a casa dela, mesmo sabendo que ela poderia jogá-lo facilmente pela janela do seu quarto, mas se desculparia com ela custe o que custasse.
Como já era de costume, ele não precisava de autorização, o lar da melhor amiga dele era como se fosse o dele, então entrou tranquilamente e seguiu sentido para cozinha; null só estaria em dois lugares em uma situação como aquela: cozinha ou quarto.
— Senhora null! — ele cumprimentou a mãe de null.
— null! — a mulher sorriu. — Como é possível ficar cada dia mais lindo? — ela apertou as bochechas, o deixando um tanto sem graça.
Ele não tinha mais 5 anos, afinal.
— São os genes! — justificou-se. — Me desculpe por entrar sem avisar.
— Sabe que essa casa é tão sua quanto nossa. — disse.
— Obrigado. — ele assentiu. — Eu estava procurando null, sabe onde ela está? — null perguntou, tentando disfarçar a ansiedade em sua voz.
A mãe de null franziu a testa, percebendo imediatamente a preocupação no rosto do rapaz.
— Ela subiu para o quarto já um tempo, null. Parecia bastante chateada. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, olhando-o com carinho.
null suspirou, sentindo um peso em seu peito.
— Sim, eu... fiz uma besteira e magoei ela, preciso me desculpar. — admitiu, abaixando a cabeça.
— Vá até o quarto dela, tenho certeza de que ela vai querer ouvir o que você tem a dizer, sabe o quanto o pai dela a mimou. — ela o aconselhou de forma gentil.
Ele concordou com um sorriso gentil, agradecendo as palavras reconfortantes dela. Leah null estava certa, sua filha sempre foi a garota número 1 do pai e era bastante mimada, então null sempre se prejudicava nas confusões, principalmente se ele estivesse errado, pois apenas um pedido de desculpas nunca era o suficiente.
Logo seguiu em direção ao quarto da amiga, sentindo o coração acelerado enquanto se preparava para enfrentar a possível fúria dela ou seu possível assassinato. Ao chegar à porta, null bateu levemente e esperou, nervoso, pela resposta de null.
— Sim? — a garota disse.
— Sou eu, null. Posso entrar? — ele perguntou, torcendo para que ela o deixasse entrar.
Houve um momento de silêncio antes dela responder e isso o consumiu.
— Quem deixou você subir? — ela questionou ao abrir a porta.
— Sua mãe, ela... — null bufou, interrompendo-o.
— Claro, minha mãe. — revirou os olhos e deu um passo para trás, permitindo que null entrasse. — O que você quer?
null entrou no quarto, sentindo-se desconfortável sob o olhar penetrante da amiga. Ele respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos, pois naquele momento sentia-se mais como um inimigo do que qualquer outra coisa, odiava quando eles discutiam.
— null, eu realmente sinto muito. — começou ele, com sinceridade.
— Eu não sou sua reserva, null. — ela arqueou uma das sobrancelhas. — Mas agora que já se desculpou, pode ir embora. — disse e depois deu as costas para ele.
— null, por favor, me escuta. — ele implorou, puxando ela pelo braço.
Os dois se encararam por um momento.
— null, você não entende. — sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Não é só sobre a festa, é sobre você achar que pode me usar para resolver seus problemas. — soltou-se da mão do amigo que a prendia.
— Eu sei disso! — falou suavemente.
— Não sabe. — retrucou. — Você foi claro quando falou sobre a Jennifer ser pegajosa e...
— Ela não é você null, nunca vai ser. — interrompeu sua amiga. — Era isso que eu queria dizer mais cedo, mas não consegui. — engoliu seco, como se tivesse tirado todo peso de dentro do seu coração. — Eu quero que você vá comigo na festa, não porque preciso de um escudo, mas porque é você. — ele se aproximou mais dela.
Ela piscou algumas vezes, tentando absorver o que ele havia dito. O ar parecia ter sido sugado do quarto e o silêncio que se seguiu era carregado de tensão, pois, mais uma vez, null fazia questão de deixá-la confusa simplesmente por não conseguir ser claro em suas palavras.
— null, eu...
null começou a falar, mas foi interrompida pelo amigo que rapidamente a agarrou pela cintura e a beijou sem pensar duas vezes, causando surpresa na garota, que nem em seus pensamentos mais impróprios imaginaria que algo assim aconteceria entre eles.
Por um instante, ela ficou imóvel, incapaz de reagir, mas, então, algo dentro dela se acendeu, seus lábios macios encontraram os dele com uma suavidade que a morena não esperava; ela fechou os olhos, permitindo-se sentir cada nuance do momento, e correspondeu ao beijo com uma intensidade que ela não entendia.
Quando finalmente se deu conta do que estava acontecendo, null o empurrou.
— Que merda é essa, null? — questionou confusa e ofegante.
null a olhou, ainda sentindo a eletricidade do beijo, sua respiração tão rápida quanto a dela.
— Eu achei que...
— Somos amigos... — ela sussurrou. — O que você fez? — perguntou novamente, ainda atordoada com o que acabara de acontecer.
— Eu sei, null. — ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Merda! — praguejou.
null ainda o fitava um tanto assustada.
— Me desculpa! — o rapaz pediu mais uma vez e deixou o quarto em uma velocidade absurda.
null saiu da casa dela sentindo-se um completo idiota. A certeza de que tinha estragado tudo e que talvez nunca mais conseguisse recuperar a amizade que tanto valorizava o engoliu de tal maneira que ele ao menos despediu-se da senhora null, subiu em sua moto e acelerou para longe, tentando fugir da avalanche de emoções que o assolava.
null, por sua vez, sentou em sua cama ainda mais confusa do que antes. Sabia que sua amizade com ele era forte e especial, mas nunca havia imaginado que algo assim pudesse acontecer. Tentou processar aquele beijo de alguma forma, mas não conseguia. Sentia como se a linha tênue entre a amizade e algo mais estivesse sendo cruzada, e ela não sabia como lidar com isso.
— Querida, está tudo bem? — a mãe dela entrou no quarto. — Não se resolveu com o null? — indagou preocupada. — Ele desceu as escadas totalmente perturbado.
Ela suspirou, olhando para sua mãe com uma expressão mista de confusão e frustração.
— Não, mãe. Não se resolveu, na verdade, acho que só piorou. — ela admitiu, sentindo um nó se formar em sua garganta e, em seguida, as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
Leah correu em direção à cama e sentou-se ao lado da filha, que na mesma hora desabou nos braços da mãe, sentindo-se completamente perdida e desorientada. A mulher nunca havia visto null daquele jeito, não por causa de uma discussão com seu melhor amigo, eles sempre se resolviam no final.
— Oh, querida, eu sei que isso é difícil. — disse gentilmente. — Mas às vezes, mesmo as melhores amizades passam por momentos turbulentos, talvez seja apenas uma fase, um desentendimento que logo será esclarecido. — tentou tranquilizar sua filha, enquanto secava as lágrimas que insistiam em molhar o rosto da garota.
— Eu sei, mãe. Mas dessa vez parece diferente, como se algo tivesse mudado entre nós de uma forma que não posso explicar. — ela falou baixinho, pois não sabia como contaria aquilo para sua mãe.
— E o que poderia ser tão ruim assim? — Leah acariciou suavemente os cabelos da filha, tentando transmitir conforto através de seu toque.
— Ele me beijou, mãe...
null admitiu, sua voz falhou um pouco enquanto pronunciava aquelas palavras que pareciam tão surreais em sua mente, esperou uma reação de choque da mãe, talvez até mesmo uma repreensão, mas o que recebeu foi um olhar gentil, compreensivo e um sorriso sagaz.
— E isso é ruim? — a mulher perguntou com suavidade.
— Claro, mãe! — a olhou indignada. — Somos melhores amigos! — justificou.
— OK! — Leah respirou fundo. — Eu ainda estou tentando entender onde está a parte ruim. — estreitou os olhos.
— Mãe! Não acha estranho? — a garota questionou surpresa.
— Eu me casei com meu melhor amigo, null, seu pai. — acariciou suavemente os cabelos da filha, tentando transmitir conforto através de seu toque. — Seria um tanto hipócrita da minha parte falar para você que é estranho. — riu fraco.
— Mas, mãe... E o que eu faço com tudo isso? Como eu volto a ser amiga dele depois disso? — null olhou para a mãe, os olhos cheios de incerteza.
— Bem, antes de qualquer coisa, você precisa ser honesta consigo mesma sobre como se sente. — Leah disse com sabedoria. — Então você precisa conversar com null, sem acusações ou defesas. Com certeza você não é a única que está se sentindo confusa. — explicou calmamente.
null sabia que a mãe tinha razão, mas a ideia de confrontar seu melhor amigo novamente a deixava nervosa.
— E se eu não conseguir? — choramingou.
— É apenas um beijo, querida! Não é o fim do mundo. — a mãe dela sorriu.
— Mas, mãe, e se eu não conseguir? — insistiu.
Leah olhou para filha com um olhar reconfortante e colocou uma mão sobre o ombro dela.
— Se vocês são realmente bons amigos, vocês vão superar isso. — ela assentiu com a cabeça esperando concordância da parte da garota.
— Eu acho que você está certa, mãe. — null disse.
Ela abraçou a filha com carinho, sentindo-se grata por ter uma relação tão próxima com a garota. Sabia que, acontecesse o que acontecesse, null encontraria seu caminho e aprenderia com suas experiências, mas a verdade é que Leah null sabia muito bem o que aquilo significava.
Amor.
Mas também sabia que os dois precisavam descobrir isso sozinhos.
Não poderia interferir.
— Você sempre pode contar comigo, querida. — disse, beijando a testa da filha.
[...]
Nos dias que se seguiram, null tentou se concentrar em seus estudos e em suas atividades cotidianas, mas não conseguia tirar null de sua mente. Ela se pegava pensando nele com mais frequência do que gostaria de admitir, revisitando cada momento que compartilharam juntos, desde os dias de infância até o beijo inesperado.
E como era difícil acreditar que ele a via de outra forma, mesmo que a ideia já tivesse passado alguma vez em sua mente quando estava compartilhando um segredo com ele, comentando alguma coisa engraçada, estudando ou simplesmente desfrutando da companhia um do outro. Mas agora tudo parecia diferente.
Ao mesmo tempo, null estava lutando com seus próprios demônios internos. Se sentia culpado pelo beijo, mas ao mesmo tempo não conseguia tirar null de sua cabeça. Cada vez que fechava os olhos, via o rosto dela, sentia o toque macio de seus lábios contra os seus, sabia que tinha estragado tudo ao beijá-la daquela forma, mas não era mais uma opção negar o que sentia.
Não depois de tantos anos.
Enquanto isso, a festa de sábado se aproximava rapidamente, deixando null ainda mais ansiosa sobre como lidaria com a situação. Sabia que teria que confrontá-lo em alguma hora, mas a ideia de encarar a possibilidade de uma mudança em sua amizade a deixava inquieta.
— Você está bem? — Chloe chamou a atenção da amiga.
— O quê? — null respondeu.
— Está bem estranha ultimamente. — a loira disse.
— Me perdi no conteúdo. — desconversou.
— Parece que o conteúdo tem nome, né? — foi irônica e percebeu que obteve resposta. — Ah, meu Deus! — exclamou um tanto alto e alertou o professor que a repreendeu com o olhar.
— Sua idiota! — a morena sussurrou em meio a uma risada fraca.
— E quem é o infeliz que está te deixando assim? — Chloe questionou curiosa.
null hesitou por um momento antes de soltar um suspiro pesado.
— Promete que não vai falar “eu te avisei”? — ela pediu.
— Não acredito que é o null. — a loira arregalou os olhos.
— Isso é a mesma coisa de falar eu te avisei. — murmurou.
— O que aconteceu entre vocês? — perguntou ansiosa.
— Ele me beijou — revelou.
— O quê?! — Chloe quase gritou, mas se conteve ao perceber o olhar severo do professor novamente. — Quando? Como? Por quê? — disparou as perguntas, mais curiosa do que nunca. — Por que não me disse isso antes?
O sinal disparou anunciando o fim da aula e null viu uma alternativa de fugir daquela conversa; olhou para a amiga com um sorriso nervoso e começou a recolher suas coisas. A loira, no entanto, não ia deixá-la escapar tão facilmente; a seguiu de perto, com uma expressão de quem não ia desistir até obter respostas.
— Você não vai fugir dessa conversa, null null. — disse, determinada, enquanto as duas saíam da sala.
— Não estou fugindo, Chloe Parker. — ela bufou. — Foi logo depois da nossa briga. Ele apareceu na minha casa para se desculpar e... acabamos discutindo mais. — disse baixinho, mexendo nervosamente no anel que usava no dedo.
— E então? — a amiga gesticulou com as mãos, pedindo mais.
— E então... ele me beijou. — falou rapidamente.
— null null finalmente tomou uma atitude. — a loira abriu a boca, surpresa, mas rapidamente fechou, tentando absorver as informações. — Mas como você se sentiu? — perguntou, tentando ser compreensiva e demonstrar apoio.
— Eu não sei. — admitiu. — Foi tudo tão confuso. No momento, fiquei com raiva e surpresa, mas... — respirou fundo, lutando para encontrar as palavras certas.
— Mas? — Parker arqueou as sobrancelhas.
— É como se, de repente, tudo mudasse entre nós e eu não soubesse como lidar com isso. — explicou.
Chloe assentiu, mostrando que estava ouvindo tudo atentamente.
— E o null? Como ele reagiu depois disso?
— Ele saiu correndo, praticamente. — null respondeu com um sorriso triste. — Acho que ficou tão confuso quanto eu. — baixou a cabeça. — Desde então, a gente não se falou. — deu de ombros.
Chloe olhou para amiga com de maneira astuta, tentando pensar em como ajudar.
— OK, null, aqui está o plano. — disse decidida. — Primeiro, você vai para a festa de amanhã. — interrompeu quando null abriu a boca para protestar. — Não adianta fugir, você precisa enfrentar isso. — levantou o indicador, silenciando a morena. — Segundo, vocês dois precisam ter uma conversa sincera. Nada de brigas, só conversa. — sugeriu.
— Eu já sei disso! Foi exatamente o que minha mãe disse. — concordou de maneira relutante. — Mas e a terceira parte do plano? O que eu faço depois Chloe? — perguntou, um pouco apreensiva.
A loira sorriu, parecendo satisfeita por ter capturado a atenção da amiga.
— Ah, essa é a parte divertida! — ela disse, piscando. — Você precisa se permitir explorar esses sentimentos, null. — levantou as sobrancelhas como se fosse algo lógico. — Não estou dizendo para correr e se apaixonar perdidamente por ele, mas você precisa entender o que está sentindo e por quê.
null assentiu lentamente, ponderando sobre as palavras da amiga. Era assustador pensar em enfrentar seus sentimentos, especialmente quando se tratava de algo tão precioso quanto sua relação com null. Poderia perder muitas coisas, mas perdê-lo seria como ter seu coração partido em pequenos pedaços e simplesmente os esmagá-los, em seguida.
— E se eu descobrir que estou apaixonada por ele? — ela perguntou, um pouco receosa.
— Não acha que o fato de me perguntar isso já não é uma resposta para o que tanto te aflige? — franziu o cenho.
null engoliu seco. Não soube o que responder. Chloe olhou para amiga com um olhar gentil, percebendo a vulnerabilidade em sua expressão. Sabia que null estava lutando contra sentimentos complicados, mas também via que já era hora de ela encontrar coragem para enfrentá-los.
— Mas se descobrir que está apaixonada por ele, então terá que decidir o que fazer com isso. — Parker tentou confortá-la.
— Eu odeio isso! — null choramingou.
— Eu sei, babe! — abriu os braços para acolher a amiga.
Chloe a segurou em um abraço reconfortante, sentindo o peso da situação que a mesma estava enfrentando.
— Sempre vou estar aqui! — Parker fez questão de lembrar o detalhe a sua amiga enquanto a apertava o máximo que conseguia.
As duas riram, sentindo um leve alívio no meio de toda a confusão emocional.
[...]
O dia da festa finalmente chegou e null se viu arrumando-se na frente do espelho nervosamente, tentando não pensar em como seria encontrar null lá, mas, ainda assim, com o sentimento de que isso aconteceria. Decidiu escolher um vestido que já havia usado em uma outra ocasião com o melhor amigo ao seu lado, um que fez com que ele perdesse o folego ao vê-la no ano anterior.
Enquanto isso, null se preparava para festa com um nó no estômago toda vez que lembrava que teria que enfrentar null e resolver as coisas entre eles, mas não tinha ideia de como fazer isso sem estragar tudo. O beijo que aconteceu entre eles tinha mudado tudo, e agora ele se via encarando emoções que nunca tinha admitido para si mesmo antes, mas que sempre estiveram lá.
Quando finalmente chegaram à festa, os dois trocaram olhares breves, mas não tiveram a chance de conversar antes de serem separados por amigos ansiosos para socializar. Conforme a noite avançava, eles se encontraram várias vezes pelo espaço da casa rodeada de jovens, mas sempre encontrando desculpas para evitar uma conversa séria.
Finalmente, em um momento de calma no meio da sala que mais parecia uma pista de dança lotada, a garota decidiu por encher a cara, virava o quarto shot de tequila, quando uma voz fez com que ela tornasse sua atenção para o dono da mesma.
— null, você está bem? — null perguntou, parecendo preocupado enquanto se aproximava por trás dela.
— Estou perfeitamente bem! — ela respondeu com um sorriso forçado. — Por que a preocupação repentina, null? Nem parece que passou a semana inteira sem falar comigo depois de me beijar e me abandonar sozinha no meu próprio quarto. — levantou uma das sobrancelhas.
null franziu a testa, notando a mudança no tom de voz dela.
— Você está bêbada, null. — ele disse com preocupação genuína.
— E você... — ele pousou o dedo indicador no peito dele. — É um covarde! — expeliu as palavras em um tom amargurado.
null sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras.
— Você definitivamente está bêbada. — sorriu sem graça, tentando disfarçar a frustração que o consumia.
— Bêbada ou não, eu sei o que estou dizendo! — ela retrucou, com um olhar carregado de raiva. — Você simplesmente me beijou e fugiu, e não é assim que as coisas funcionam entre amigos. — ela disse e depois pegou a garrafa de bebida à sua frente.
— Chega! — ele a impediu de colocar mais uma gota de álcool na boca. — Vamos para casa. — ele a pegou pelo braço com cuidado, guiando-a para fora da festa.
— O que você está fazendo? — soltou-se dele no meio da sala. — Eu não quero ir embora. — reclamou.
null suspirou.
— Confia em mim, amanhã você vai me agradecer por isso. — ele insistiu, voltando a segurar o braço da garota com firmeza, mas sem machucá-la.
— Eu não quero ir para casa! — ela protestou, tentando se soltar dele. — Eu quero dançar! — disse após ouvir a música que começara a tocar.
— Você quer dançar? — ele riu fraco.
— Sim! — a garota choramingou o puxando pela mão.
null olhou para null, balançando a cabeça ligeiramente, mas um sorriso se formou em seus lábios. Ele sabia que discutir com ela naquele estado não levaria a nada e, no fundo, também queria aproveitar aquele momento juntos, pois nem parecia que ela havia o chamado de covarde há alguns minutos.
— A sua sorte é que eu adoro essa música. — ele disse, cedendo.
Ela sorriu amplamente, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio, e o puxou para o centro da sala. A canção em questão que acabara de começar a tocar naquela hora era “yes or no”, do cantor Jungkook, uma mera coincidência quando ambos estavam em conflito com seus próprios sentimentos.
— This ain't another love song, baby, It's my way of putting feelers out. — null cantarolou enquanto a encarava.
— All the traffic in my head's going crazy, I'm gonna trust my heart right now. — ela continuou a frase que vinha em seguida.
null, tinha um sorriso travesso exposto em sua boca, conforme os dois dançavam, faziam movimentos diferentes e se divertiam. A batida da música preenchia o ambiente, fazendo com que os dois esquecessem temporariamente da tensão que esteve entre eles durante toda a semana.
A morena puxava seu melhor amigo para mais perto, dançando de forma envolvente, seus corpos movendo-se em sincronia com a melodia e a letra da música parecia traduzir exatamente o que ambos sentiam, como se cada palavra refletisse suas emoções confusas.
— Are you feeling the rush? — null sussurrou, sua voz quase se perdendo no meio do barulho, mas próxima o suficiente para que ela ouvisse.
— Are you thinking 'bout us? — ela cantou outra parte de maneira sincera, como se o perguntasse diretamente sobre seus sentimentos.
Então, ainda em uma tentativa de fingir que aquela pergunta não tinha nada a ver com o que estava acontecendo entre os dois, ele segurou a mão dela e a rodopiou e acabou ocasionando gargalhadas de ambas partes e alguns sorrisos singelos de pessoas que os observam indiretamente.
— Everybody in this club so faded, I'm trippin' over getting lost on you. — null começou a segunda parte da música. — If we forever started out as strangers, I think my ever after just came true. — ele arqueou as sobrancelhas como se estivesse dizendo algo lógico.
null parou de dançar por um momento, olhando-o intensamente.
— Você acha que se fôssemos estranhos, ainda teria me beijado? — ela o questionou sem arrodeio.
— O quê? — o rapaz retrucou sem reação.
null suspirou, sentindo o peso da dúvida e do álcool misturados em sua mente. Ela buscava alguma resposta, alguma indicação do que ele sentia por ela.
— Quero dizer... — ela começou, tentando organizar seus pensamentos. — Se não fôssemos amigos, se fôssemos apenas dois estranhos nos encontrando pela primeira vez, você ainda teria me beijado?
null ficou em silêncio por um momento.
— Sim. — ele disse nervoso. — Something about you... Do you feel the way I do? — cantarolou em meio a risadas desconcertantes sem tirar o olhar dela, pois também queria uma resposta, mas estava tímido demais para ser direto como ela.
A morena apenas sorriu.
— There's magic in the room... Tell me, what we gonna do? — null tentou seguir a linha de raciocínio dela através da música, porque falar sobre o que sentia também era difícil para ela.
A festa ao redor deles parecia desvanecer-se, deixando apenas os dois no centro da pista de dança, o clima que antes estava preenchido de tensão, agora dava lugar a uma mistura de desejo e incerteza, e o olhar intenso que trocavam era carregado de palavras que talvez sempre foram sentidas, mas nunca ditas.
— And are we falling in love? Say yes or no... — entrelaçou os dedos das duas mãos pelos cabelos dela. — Yes or no, yes or no... — ele sussurrou aproximando-se da boca dela e, em seguida, a beijando.
O beijo entre eles começou suavemente, mas rapidamente se transformou em algo mais intenso, como se todas as emoções reprimidas da última semana fossem liberadas de uma vez só. Os lábios de null pressionavam-se contra os dela com uma combinação de urgência e delicadeza, cada movimento carregado de significado.
null, sentindo o calor do corpo dele próximo ao seu, envolveu os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o ainda mais para perto, o que fez com que ele deslizasse lentamente suas mãos pelas costas dela, explorando cada curva, sentindo a suavidade da pele exposta pelo vestido.
Ela correspondeu com igual fervor, suas mãos descendo pelos ombros dele, sentindo os músculos tensos sob a camisa. Era como se ambos estivessem tentando memorizar cada detalhe, cada sensação, como se aquele momento fosse eterno, uma mistura de paixão, arrependimento e uma promessa silenciosa de que as coisas nunca mais seriam as mesmas entre eles.
— Finalmente! — Chloe gritou da multidão, fazendo com que ambos apartassem o beijo entre risadas e chamando atenção de algumas pessoas que estavam ao redor.
Eles se separaram apenas o suficiente para olhar em volta, percebendo que não estavam mais sozinhos no centro da pista, amigos os cercavam, sorrisos amplos e expressões de aprovação evidentes em seus rostos, como se houvesse mais gente que sabia que aquilo deveria ter acontecido antes.
— Acho que estamos chamando um pouco de atenção. — ela sussurrou para null.
— Só um pouco. — respondeu com um sorriso, seus olhos ainda fixos nos dela. — Vamos sair daqui por um momento? — ele questionou, inclinando-se para falar no ouvido dela.
null assentiu com seu coração batendo rápido, então ele a segurou pela mão e os dois começaram a se mover em direção à porta, abrindo caminho pela multidão de amigos que ainda os observavam com sorrisos e olhares cúmplices. Encontraram Jake pelo caminho, que definitivamente havia visto o beijo.
— Você é o cara! — o amigo piscou o olho para null. — E eu disse que eu era mais você. — sorriu, apontando para null que corou imediatamente.
— Idiota! — null retrucou de forma brincalhona e tratou de passar por ele rapidamente.
Após um tempo, os dois conseguiram finalmente sair do centro da festa e encontraram um canto mais tranquilo no jardim da casa em que estavam. O ar fresco da noite era um alívio bem-vindo, ajudando a clarear um pouco a cabeça da morena que olhou para seu melhor amigo, ainda sentindo o calor do beijo e o turbilhão de emoções que ele havia provocado.
— Então... — ela começou, sem saber exatamente como continuar a conversa.
— Tem certeza de que não está bêbada? — null estreitou os olhos para garota.
— Eu tomei apenas quatro doses de tequila, é necessário um pouco mais que isso para me derrubar. — a garota riu e ele acompanhou.
— Então tudo foi real? Você realmente quis? — o rapaz fixou os olhos nos dela.
Ela assentiu, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Eu sinto muito por ter te deixado naquela noite. — null hesitou, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu estava confuso e com medo do que tudo isso significava.
— Eu também estava com medo. — ela admitiu. — Nós sempre fomos melhores amigos e isso é tão estranho. — mordeu o lábio inferior.
— Eu sei. — ele concordou, segurando as mãos dela entre as suas. — Eu estava com medo de estragar tudo, mas a verdade é que... não consegui parar de pensar em você desde aquele beijo.
— E por que não disse nada? — null perguntou, substituindo a raiva que sentiu por uma vulnerabilidade curiosa.
— Porque eu não sabia como. — ele respondeu, dando um meio sorriso. — E porque eu estava com medo de perder você.
— null, você nunca vai me perder. — a garota franziu o cenho.
— Como eu ia saber? Arrisquei tudo o que tínhamos construído no dia em que te beijei. — engoliu seco.
— Eu entendo bem o sentimento. — ela balançou a cabeça devagar.
— Mas nós ainda estamos aqui, não estamos? — ele perguntou, olhando-a nos olhos em busca de uma resposta.
null assentiu.
— Mas o que somos? — indagou um tanto nervosa.
— A pergunta não é o que somos. — sorriu travesso. — Mas sim se você deseja ser minha a partir de agora.
— Sua? — ela disse baixinho, um tanto tímida.
— Está com vergonha? Do seu melhor amigo? — ele perguntou em um tom irônico, tentando esconder o sorriso por achar fofo ela reagir dessa forma.
Ela revirou os olhos, mas, não pôde evitar sorrir.
— Talvez um pouco. — ela confessou, brincalhona.
— Bem, então vamos fazer assim... — null começou, olhando-a com um brilho nos olhos. — A partir de agora, somos o que quisermos ser. Amigos, namorados, parceiros de crime... você escolhe.
— Parceiros de crime? Vai me ajudar a assassinar a Jennifer? — ela arqueou as sobrancelhas e null soltou uma gargalhada.
— Já está com ciúmes, senhorita null? — questionou em um tom de deboche.
null deu um leve empurrão em null, fazendo-o rir ainda mais.
— Eu estava brincando! — ela disse e deu de ombros. — Mas, pensando bem, talvez precisemos eliminar algumas barreiras, sabe? — disse, mordendo o lábio inferior de maneira provocante.
— Claro, parceira. — ele respondeu de maneira sarcástica, puxando-a mais para perto, seus braços envolvendo-a de forma protetora. — Vamos começar eliminando qualquer dúvida. — ele inclinou-se para beijá-la novamente e depositou um selinho demorado nos lábios da garota.
— Acho que a dúvida foi eliminada. — ela murmurou, com seus lábios roçando levemente os dele enquanto falava.
— Sim? — ele sorriu.
— Sim. — ela concordou.
— Hoje não garotinho, por favor! — ela esfregava sua mão no volante, nervosa.
Com um suspiro frustrado, a garota tentou novamente ligar o carro, mas nada aconteceu, o motor parecia completamente morto. Levou alguns segundos para que ela decidisse sair do veículo, pegasse sua bolsa e a colocasse sobre os ombros, murmurando algumas palavras em completa irritação.
— Pai! — gritou e o ele chegou correndo na garagem.
— O que está havendo? — o homem questionou assustado.
— Está quebrado! — disse apontando para o carro. — De novo! — sorriu sem mostrar os dentes.
— De novo? Mas você acabou de consertá-lo! — exclamou o pai, franzindo a testa, indignado.
— Eu sei, pai! — ela bufou, irritada. — Mas você sabe que esse carro tem vontade própria. — revirou os olhos.
— Não tenho como olhar isso agora. — ele gesticulou com as mãos, mostrando o terno.
— E o que eu devo fazer? — perguntou enquanto retirava a bolsa do carro.
— Prometo que olhamos mais tarde! — falou com sinceridade.
— Pode pelo menos me levar para faculdade? — a garota implorou.
Antes que o pai dela a respondesse, uma buzina chamou a atenção dos dois.
null. O melhor amigo dela acenava depois de tirar o capacete.
Os dois se conheciam desde que eram crianças, cresceram na mesma vizinhança e frequentaram a mesma escola desde o jardim de infância. E mesmo com tantas semelhanças, null sempre foi o oposto de null em muitos aspectos. Enquanto ela era impulsiva e estava sempre correndo para chegar a algum lugar, ele era mais calmo e tranquilo, sempre pronto para ajudar os outros.
Os pais dele se mudaram da Coreia para Los Angeles antes que o rapaz nascesse, então ele cresceu imerso em duas culturas, o que lhe conferiu uma visão única da vida, muito conhecimento, e preconceito da parte de alguns ignorantes por conta dos seus traços étnicos que eram impossíveis de passarem despercebidos.
O preconceito, inclusive, foi um dos motivos para que null se aproximasse dele. Aconteceu depois que a mãe da garota defendeu a mãe dele em uma discussão com um dos vizinhos e logo se tornaram amigas. Com o passar dos anos e a aproximação demasiada dos filhos, já se consideravam família, era normal viajarem ou estarem juntos no finais de semana.
Então, no meio de toda aquela frustração com o carro, a presença confiável de null era puro conforto.
— null! — Dave sorriu aliviado.
— O quê? Mas, pai, sabe que eu odeio motos! — a garota choramingou, percebendo que o homem a abandonaria ali.
— Me desculpa, princesinha! — ele encostou a mão no ombro dela. — Tenho uma apresentação. Se eu te deixar na faculdade, perderei o horário.
— Acho que não tenho muita escolha, certo? — ela respondeu desapontada.
— Obrigado e eu amo você! — sorriu. — Obrigado, null! — disse ao garoto que se aproximava dos dois.
— Obrigado pelo que, senhor Dave? — o jovem o fitou confuso.
— A null te explica melhor, preciso ir! — despediu-se e seguiu direção para o carro ao lado do da sua filha.
— Quebrou de novo? — null sinalizou com a cabeça para o automóvel.
Ela apenas assentiu enquanto observava seu pai deixar a garagem.
— Ainda bem que eu trouxe um capacete reserva então. — riu fraco.
— Por que está com um capacete reserva? — questionou curiosa, pois não era comum da parte dele fazer isso.
— O encontro com a Jennifer. — relembrou a amiga.
— Aquela insuportável? — disse com uma expressão de sarcasmo estampado no rosto.
— Sim, aquela mesma. — null confirmou com um sorriso irônico. — Ela insistiu para irmos dar uma volta de moto. Aparentemente, é uma das suas novas paixões.
— Desde quando você cede aos caprichos dela? — null arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Desde quando você se tornou tão implicante? — ele deu um peteleco na testa da garota.
— Desde que você começou a sair com garotas que não tem nada a ver com você. — revirou os olhos, passando a mão no local que agora doía um pouco.
— O que quer dizer com isso? — estreitou os olhos para ela.
— Eu apenas... Eu só acho que ela é o tipo de garota que pode te machucar, que só quer te usar. — ela tentou se explicar, olhando para ele com sinceridade.
— O que não é muito difícil, né? — debochou. — Olha para mim! — deu uma voltinha causando uma risada genuína da parte dela.
— Eu estou falando sério, seu idiota! — o empurrou pelo ombro.
— Eu sei! — ele segurou a mão dela. — Só há uma mulher neste mundo capaz de quebrar o meu coração e ela está bem na minha frente. — a encarou sério.
A morena respirou fundo, tentando ignorar o calor que subiu ao rosto diante das palavras sinceras de null.
— Eu jamais faria isso! — sorriu amigavelmente. — Agora, nós precisamos ir! — tentou desconversar.
Ela odiava quando null tocava nesses assuntos. Embora eles sempre brincassem um com o outro, havia algo na forma como ele falava sobre confiança e sentimentos que a fazia se sentir um pouco desconfortável, como se ela fosse digna de não cometer erros ou algo assim. Ele confiava plenamente nela para qualquer coisa; na cabeça dele, não havia nada que null não pudesse resolver, pois não conhecera alguém tão corajosa quanto ela.
— Sinto muito! Sei que odeia motos. — ele confortou a garota após ambos deixarem a garagem e ela fechar a porta com o controle automático.
Sem mais delongas, null pegou o capacete reserva que null ofereceu e o colocou, ajustando-o firmemente, e subiu na moto atrás dele, abraçando-o com firmeza enquanto ele arrancava suavemente. Apesar do frio na barriga, o senso de liberdade que o vento fresco da manhã causava ao bater no rosto dela a reconfortava.
Enquanto o rapaz dirigia pela movimentada cidade, ela se sentia dividida entre a preocupação com o atraso na faculdade e a sensação de segurança que aquele momento a proporcionava. Por mais que odiasse admitir, havia algo de emocionante em sentir-se tão exposta e vulnerável na parte de trás da moto, agarrada ao seu melhor amigo.
Enquanto paravam em um sinal, null puxou assunto para distrair null de seu atraso iminente.
— Então, sobre aquela festa no sábado... você vai, certo? — perguntou despretensioso.
— Claro que vou. Afinal, quem mais vai ficar de olho em você e suas conquistas amorosas se não eu? — ela brincou.
Ele riu.
— Como eu te aguentei por todos esses anos? Sério? — balançou a cabeça negativamente.
Ela revirou os olhos com um sorriso no rosto.
— Isso não é obvio? — fitou o rapaz pelo espelho retrovisor. — Você me ama!
— Eu acho que esse é o problema! — confessou em meio a uma gargalhada.
O sinal ficou verde e ele se permitiu acelerar, retomando o caminho para faculdade, fazendo com que a garota o agarrasse mais forte, de forma imediata. Enquanto ela sentiu a adrenalina correr pelo corpo com o pequeno susto, null absorveu um tipo de transe ao sentir as mãos da melhor amiga encostarem no seu peitoral com mais força.
— Acho que é melhor você me deixar na entrada principal. Não quero ter que correr tanto para chegar à sala a tempo. — disse ela, levantando a voz para ser ouvida sobre o barulho do vento e do motor.
— Claro, sem problemas. — respondeu null, recuperando seus sentidos reais após ouvir a voz dela e diminuindo a velocidade à medida que se aproximavam do portão de entrada.
Após estacionar a moto, null desceu e retirou o capacete.
— Obrigada mesmo, null. Eu te devo uma! — disse ela, sorrindo para ele enquanto se preparava para partir.
— Vamos comigo na festa de sábado! — pediu.
— Eu já disse que vou! — disse, franzindo o cenho, confusa.
— Eu quis dizer ao meu lado. — retirou o capacete para conseguir olhar para ela melhor e passou as mãos pelo cabelo.
Ela paralisou. Era como ver um Deus a sua frente.
Poderia negar muitas coisas na sua vida, mas não poderia negar o quanto seu melhor amigo era bonito.
— Você... quer que eu vá com você? — a surpresa na voz dela era palpável.
null assentiu, um leve rubor tingindo suas bochechas. Ele parecia um pouco nervoso, algo incomum para ele.
— Claro, seria ótimo ter você lá. — sorriu, sem jeito. — Tipo, você sabe como eu sou quando eu bebo, e quem mais cuidaria de mim? — ele tentou se manter calmo e casual, mas havia uma tensão perceptível.
null estava perplexa. Ela sempre foi o lado impulsivo da amizade deles, sempre correndo de um lugar para outro, nunca pensando muito antes de agir. Mas agora, diante da vulnerabilidade inesperada dele, ela se viu tentando processar seus próprios sentimentos de uma maneira que não estava acostumada.
— Óbvio! Você vai beber! É isso! — falou com a voz um pouco trêmula, e ela se culpou por isso.
— Ótimo. — assentiu. — Você deveria ir para aula, a gente se vê no campus. — ele colocou o capacete de volta e deu partida na moto, preparando-se para partir.
A garota assistiu enquanto ele se afastava, sentindo um turbilhão de emoções dentro dela, se perguntando o que acabara de acontecer. Não era do feitio dele chamá-la para festas, eles apenas se esbarravam no local, mas com esse convite inesperado e um tanto estranho, ela se viu questionando tudo.
Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não era hora para isso, estava atrasada para a aula e precisava correr. Enquanto se dirigia para a entrada da sala de aula, tentou se concentrar nas tarefas do dia. Mas, no fundo de sua mente, uma pergunta persistia: o que o convite de null significava realmente?
Enquanto a aula seguia, null não conseguia evitar olhar para o relógio de minuto a minuto. O tempo parecia se arrastar lentamente, prolongando ainda mais sua agonia. Quando finalmente o sinal tocou indicando o fim da aula, ela se levantou rapidamente, pegou suas coisas e saiu da sala, determinada a encontrá-lo e mais uma vez buscar algum sinal de uma explicação.
Após percorrer o campus, finalmente, avistou-o perto do café universitário, conversando com alguns amigos. Ela se aproximou, sentindo as pernas um pouco trêmulas de nervosismo; era esquisito sentir-se assim, visto que uma situação dessa nunca havia acontecido entre eles.
Foi desconcertante e ambos sabiam disso.
— null! — ela o chamou, tentando soar casual.
Ele se virou para ela, com um sorriso iluminando todo o rosto dele e de repente o coração da garota começou a bater descontroladamente em seu peito.
— null! — ele a chamou pelo sobrenome. — Como foi a aula? — perguntou, parecendo genuinamente feliz em vê-la.
— Foi tranquilo, eu acho. — disfarçou o nervosismo.
— Acha? — questionou confuso.
null respirou fundo e reuniu a coragem para falar.
— null, sobre a festa... — ela começou, mas foi interrompida por um dos amigos do rapaz.
— Ei, null, nós estávamos falando sobre a festa no sábado. Você vai levar a Jennifer? — Jake perguntou com um certo incômodo.
null sentiu uma pontada de ciúmes, mas tentou ignorá-la.
— Na verdade, eu... — null começou a dizer, mas foi interrompido novamente quando seu celular tocou.
Ele olhou para tela e franziu a testa.
— Desculpa, null, eu preciso atender essa ligação. — ele disse rapidamente antes de virar as costas e se afastar.
A garota ficou ali parada, se sentindo completamente confusa e frustrada.
— Aposto que é a Jennifer! — Jake comentou. — Ela é um chiclete! — ele revirou os olhos. — Sinceramente? Sou muito mais você, null! — deu de ombros.
null forçou um sorriso diante do comentário.
— Nós somos só amigos, Jake, todos vocês já sabem disso. — ela encarou o rapaz loiro a sua frente.
Por fora, ela transparecia saber exatamente o que estava dizendo. Mas por dentro, não parecia ter tanta certeza assim.
— Se você diz, né? — ele soltou uma risada irônica.
A garota sentiu uma mistura de irritação e desconforto com o comentário feito pelo loiro, mas optou por não prolongar a conversa. Em vez disso, ela se virou e começou a se afastar, tentando ignorar a sensação de que algo estava mudando entre ela e null.
— null! — seu melhor amigo gritou e no mesmo instante, ela parou e olhou para trás. — Onde está indo? — perguntou.
— Eu não sei exatamente. — respondeu meio perdida.
— Você parece diferente, está tudo bem? — null indagou deveras preocupado.
— Quem era? — questionou o amigo, que devolveu um olhar confuso. — Na ligação, quem era?
— Era a... Jennifer. — ele protelou um pouco para dizer quem era.
— null... — ela respirou fundo antes de continuar. — Posso te perguntar por que não leva ela na festa de sábado? — estreitou os olhos.
null ficou em silêncio por um momento, parecendo considerar cuidadosamente suas palavras. Ele finalmente suspirou e olhou nos olhos dela, a sinceridade evidente em sua expressão.
— OK! Eu pensei em levar, mas depois mudei de ideia. — ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Jennifer é divertida, mas... — ele hesitou, procurando as palavras certas. — Ela não é... — não conseguiu terminar a frase.
— Ela não é...? — null insistiu.
— Olha, ela é muito pegajosa, eu não aguento mais. — bufou.
Então, finalmente, null percebeu do que aquilo se tratava. Por um momento, ela realmente se deixou acreditar que seu melhor amigo poderia vê-la de outro jeito. Não que ela quisesse isso, mas a possibilidade mexeu com ela, porém, null estava apenas querendo despistar Jennifer e para isso precisaria de outra garota, vulgo ela.
— Você é inacreditável, null null! — ela revirou os olhos. — É sério que queria me usar?
— Não é dessa forma, null. Eu pensei que se você fosse comigo, ela me deixaria em paz...
— Ou seja, me usar! — ela o interrompeu.
— Não, não! — protestou.
— Foi idiota ao ponto de realmente achar que ela acreditaria que temos alguma coisa rolando? — arqueou as sobrancelhas.
— Bem, ela morre de ciúmes de você, eu achei que... — ele não conseguiu terminar a frase.
— Você achou que eu ia servir de escudo para você? — a morena cruzou os braços, sentindo a raiva crescer dentro dela. — Como se eu fosse algum tipo de ferramenta para resolver seus problemas com a Jennifer?
— null, não é isso... — null tentou explicar, mas ela levantou a mão, interrompendo-o.
— Boa sorte para encontrar alguém que concorde com essa merda, porque eu estou fora! — disse e deu as costas ao amigo, sem chance de ele respondê-la.
Enquanto se afastava, ela se prometeu que não deixaria ninguém, nem mesmo seu melhor amigo, tratá-la como uma segunda opção. Balançou a cabeça, tentando afastar a sensação de traição e frustração. Ela sempre valorizou a amizade com null, mas agora estava questionando tudo.
— Idiota! — murmurou baixinho enquanto caminhava.
Depois disso, ela direcionou-se novamente para sala de aula e é obvio que o dia passou lentamente, as aulas pareciam se arrastar e, apesar de tentar se concentrar nos estudos, seus pensamentos sempre voltavam para conversa com null, e não demorou muito para que seu celular vibrasse.
“Desculpa, null. Eu fui um idiota. Não queria te usar ou te magoar. Eu só estava tentando evitar uma situação desconfortável com a Jennifer. Por favor, me desculpe. Podemos conversar?”
Minutos depois mais uma mensagem chegara.
“null?”
Uns segundos depois, mais uma mensagem aparecia na tela dela.
“Sabe que eu odeio quando discutimos, não me torture :(”
“Não era tortura”, ela pensou.
“Me responde, por favor?”
null suspirou fundo, encarando a tela do celular por alguns instantes antes de decidir como responder. Ela não estava com raiva de null, mas sim decepcionada com a situação toda. Por mais que ele fosse seu melhor amigo, ela não podia simplesmente ignorar o fato de ter se sentido usada e menosprezada.
Depois de um momento de reflexão, ela finalmente digitou uma resposta.
“Eu não sou sua segunda opção null, nem sua, nem de ninguém!”
Logo após enviar o pequeno recado, ela desligou o telefone para que ele não a perturbasse mais. null logo percebeu que as suas mensagens não chegavam mais no telefone dela, não era sua intenção que ela se sentisse assim, nunca cogitaria a sua melhor amiga como um plano reserva, mas a conhecia o suficiente para saber que ela não aceitaria ir à festa se soubesse de Jennifer.
Esperou pela melhor amiga na saída do bloco onde ela estava, mas após uma hora, sabia que a garota havia deixado a faculdade, provavelmente com muito ódio no coração. Ele se sentia terrivelmente culpado por estragar tudo daquela forma, por ter sido um tremendo idiota.
Imediatamente, mandou uma mensagem para Jennifer dizendo que não havia nada entre eles e que ela o deixasse em paz, pois null era mais importante do que qualquer outra pessoa e não era uma opção perdê-la. Ele decidiu ir até a casa dela, mesmo sabendo que ela poderia jogá-lo facilmente pela janela do seu quarto, mas se desculparia com ela custe o que custasse.
Como já era de costume, ele não precisava de autorização, o lar da melhor amiga dele era como se fosse o dele, então entrou tranquilamente e seguiu sentido para cozinha; null só estaria em dois lugares em uma situação como aquela: cozinha ou quarto.
— Senhora null! — ele cumprimentou a mãe de null.
— null! — a mulher sorriu. — Como é possível ficar cada dia mais lindo? — ela apertou as bochechas, o deixando um tanto sem graça.
Ele não tinha mais 5 anos, afinal.
— São os genes! — justificou-se. — Me desculpe por entrar sem avisar.
— Sabe que essa casa é tão sua quanto nossa. — disse.
— Obrigado. — ele assentiu. — Eu estava procurando null, sabe onde ela está? — null perguntou, tentando disfarçar a ansiedade em sua voz.
A mãe de null franziu a testa, percebendo imediatamente a preocupação no rosto do rapaz.
— Ela subiu para o quarto já um tempo, null. Parecia bastante chateada. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, olhando-o com carinho.
null suspirou, sentindo um peso em seu peito.
— Sim, eu... fiz uma besteira e magoei ela, preciso me desculpar. — admitiu, abaixando a cabeça.
— Vá até o quarto dela, tenho certeza de que ela vai querer ouvir o que você tem a dizer, sabe o quanto o pai dela a mimou. — ela o aconselhou de forma gentil.
Ele concordou com um sorriso gentil, agradecendo as palavras reconfortantes dela. Leah null estava certa, sua filha sempre foi a garota número 1 do pai e era bastante mimada, então null sempre se prejudicava nas confusões, principalmente se ele estivesse errado, pois apenas um pedido de desculpas nunca era o suficiente.
Logo seguiu em direção ao quarto da amiga, sentindo o coração acelerado enquanto se preparava para enfrentar a possível fúria dela ou seu possível assassinato. Ao chegar à porta, null bateu levemente e esperou, nervoso, pela resposta de null.
— Sim? — a garota disse.
— Sou eu, null. Posso entrar? — ele perguntou, torcendo para que ela o deixasse entrar.
Houve um momento de silêncio antes dela responder e isso o consumiu.
— Quem deixou você subir? — ela questionou ao abrir a porta.
— Sua mãe, ela... — null bufou, interrompendo-o.
— Claro, minha mãe. — revirou os olhos e deu um passo para trás, permitindo que null entrasse. — O que você quer?
null entrou no quarto, sentindo-se desconfortável sob o olhar penetrante da amiga. Ele respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos, pois naquele momento sentia-se mais como um inimigo do que qualquer outra coisa, odiava quando eles discutiam.
— null, eu realmente sinto muito. — começou ele, com sinceridade.
— Eu não sou sua reserva, null. — ela arqueou uma das sobrancelhas. — Mas agora que já se desculpou, pode ir embora. — disse e depois deu as costas para ele.
— null, por favor, me escuta. — ele implorou, puxando ela pelo braço.
Os dois se encararam por um momento.
— null, você não entende. — sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Não é só sobre a festa, é sobre você achar que pode me usar para resolver seus problemas. — soltou-se da mão do amigo que a prendia.
— Eu sei disso! — falou suavemente.
— Não sabe. — retrucou. — Você foi claro quando falou sobre a Jennifer ser pegajosa e...
— Ela não é você null, nunca vai ser. — interrompeu sua amiga. — Era isso que eu queria dizer mais cedo, mas não consegui. — engoliu seco, como se tivesse tirado todo peso de dentro do seu coração. — Eu quero que você vá comigo na festa, não porque preciso de um escudo, mas porque é você. — ele se aproximou mais dela.
Ela piscou algumas vezes, tentando absorver o que ele havia dito. O ar parecia ter sido sugado do quarto e o silêncio que se seguiu era carregado de tensão, pois, mais uma vez, null fazia questão de deixá-la confusa simplesmente por não conseguir ser claro em suas palavras.
— null, eu...
null começou a falar, mas foi interrompida pelo amigo que rapidamente a agarrou pela cintura e a beijou sem pensar duas vezes, causando surpresa na garota, que nem em seus pensamentos mais impróprios imaginaria que algo assim aconteceria entre eles.
Por um instante, ela ficou imóvel, incapaz de reagir, mas, então, algo dentro dela se acendeu, seus lábios macios encontraram os dele com uma suavidade que a morena não esperava; ela fechou os olhos, permitindo-se sentir cada nuance do momento, e correspondeu ao beijo com uma intensidade que ela não entendia.
Quando finalmente se deu conta do que estava acontecendo, null o empurrou.
— Que merda é essa, null? — questionou confusa e ofegante.
null a olhou, ainda sentindo a eletricidade do beijo, sua respiração tão rápida quanto a dela.
— Eu achei que...
— Somos amigos... — ela sussurrou. — O que você fez? — perguntou novamente, ainda atordoada com o que acabara de acontecer.
— Eu sei, null. — ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Merda! — praguejou.
null ainda o fitava um tanto assustada.
— Me desculpa! — o rapaz pediu mais uma vez e deixou o quarto em uma velocidade absurda.
null saiu da casa dela sentindo-se um completo idiota. A certeza de que tinha estragado tudo e que talvez nunca mais conseguisse recuperar a amizade que tanto valorizava o engoliu de tal maneira que ele ao menos despediu-se da senhora null, subiu em sua moto e acelerou para longe, tentando fugir da avalanche de emoções que o assolava.
null, por sua vez, sentou em sua cama ainda mais confusa do que antes. Sabia que sua amizade com ele era forte e especial, mas nunca havia imaginado que algo assim pudesse acontecer. Tentou processar aquele beijo de alguma forma, mas não conseguia. Sentia como se a linha tênue entre a amizade e algo mais estivesse sendo cruzada, e ela não sabia como lidar com isso.
— Querida, está tudo bem? — a mãe dela entrou no quarto. — Não se resolveu com o null? — indagou preocupada. — Ele desceu as escadas totalmente perturbado.
Ela suspirou, olhando para sua mãe com uma expressão mista de confusão e frustração.
— Não, mãe. Não se resolveu, na verdade, acho que só piorou. — ela admitiu, sentindo um nó se formar em sua garganta e, em seguida, as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
Leah correu em direção à cama e sentou-se ao lado da filha, que na mesma hora desabou nos braços da mãe, sentindo-se completamente perdida e desorientada. A mulher nunca havia visto null daquele jeito, não por causa de uma discussão com seu melhor amigo, eles sempre se resolviam no final.
— Oh, querida, eu sei que isso é difícil. — disse gentilmente. — Mas às vezes, mesmo as melhores amizades passam por momentos turbulentos, talvez seja apenas uma fase, um desentendimento que logo será esclarecido. — tentou tranquilizar sua filha, enquanto secava as lágrimas que insistiam em molhar o rosto da garota.
— Eu sei, mãe. Mas dessa vez parece diferente, como se algo tivesse mudado entre nós de uma forma que não posso explicar. — ela falou baixinho, pois não sabia como contaria aquilo para sua mãe.
— E o que poderia ser tão ruim assim? — Leah acariciou suavemente os cabelos da filha, tentando transmitir conforto através de seu toque.
— Ele me beijou, mãe...
null admitiu, sua voz falhou um pouco enquanto pronunciava aquelas palavras que pareciam tão surreais em sua mente, esperou uma reação de choque da mãe, talvez até mesmo uma repreensão, mas o que recebeu foi um olhar gentil, compreensivo e um sorriso sagaz.
— E isso é ruim? — a mulher perguntou com suavidade.
— Claro, mãe! — a olhou indignada. — Somos melhores amigos! — justificou.
— OK! — Leah respirou fundo. — Eu ainda estou tentando entender onde está a parte ruim. — estreitou os olhos.
— Mãe! Não acha estranho? — a garota questionou surpresa.
— Eu me casei com meu melhor amigo, null, seu pai. — acariciou suavemente os cabelos da filha, tentando transmitir conforto através de seu toque. — Seria um tanto hipócrita da minha parte falar para você que é estranho. — riu fraco.
— Mas, mãe... E o que eu faço com tudo isso? Como eu volto a ser amiga dele depois disso? — null olhou para a mãe, os olhos cheios de incerteza.
— Bem, antes de qualquer coisa, você precisa ser honesta consigo mesma sobre como se sente. — Leah disse com sabedoria. — Então você precisa conversar com null, sem acusações ou defesas. Com certeza você não é a única que está se sentindo confusa. — explicou calmamente.
null sabia que a mãe tinha razão, mas a ideia de confrontar seu melhor amigo novamente a deixava nervosa.
— E se eu não conseguir? — choramingou.
— É apenas um beijo, querida! Não é o fim do mundo. — a mãe dela sorriu.
— Mas, mãe, e se eu não conseguir? — insistiu.
Leah olhou para filha com um olhar reconfortante e colocou uma mão sobre o ombro dela.
— Se vocês são realmente bons amigos, vocês vão superar isso. — ela assentiu com a cabeça esperando concordância da parte da garota.
— Eu acho que você está certa, mãe. — null disse.
Ela abraçou a filha com carinho, sentindo-se grata por ter uma relação tão próxima com a garota. Sabia que, acontecesse o que acontecesse, null encontraria seu caminho e aprenderia com suas experiências, mas a verdade é que Leah null sabia muito bem o que aquilo significava.
Amor.
Mas também sabia que os dois precisavam descobrir isso sozinhos.
Não poderia interferir.
— Você sempre pode contar comigo, querida. — disse, beijando a testa da filha.
Nos dias que se seguiram, null tentou se concentrar em seus estudos e em suas atividades cotidianas, mas não conseguia tirar null de sua mente. Ela se pegava pensando nele com mais frequência do que gostaria de admitir, revisitando cada momento que compartilharam juntos, desde os dias de infância até o beijo inesperado.
E como era difícil acreditar que ele a via de outra forma, mesmo que a ideia já tivesse passado alguma vez em sua mente quando estava compartilhando um segredo com ele, comentando alguma coisa engraçada, estudando ou simplesmente desfrutando da companhia um do outro. Mas agora tudo parecia diferente.
Ao mesmo tempo, null estava lutando com seus próprios demônios internos. Se sentia culpado pelo beijo, mas ao mesmo tempo não conseguia tirar null de sua cabeça. Cada vez que fechava os olhos, via o rosto dela, sentia o toque macio de seus lábios contra os seus, sabia que tinha estragado tudo ao beijá-la daquela forma, mas não era mais uma opção negar o que sentia.
Não depois de tantos anos.
Enquanto isso, a festa de sábado se aproximava rapidamente, deixando null ainda mais ansiosa sobre como lidaria com a situação. Sabia que teria que confrontá-lo em alguma hora, mas a ideia de encarar a possibilidade de uma mudança em sua amizade a deixava inquieta.
— Você está bem? — Chloe chamou a atenção da amiga.
— O quê? — null respondeu.
— Está bem estranha ultimamente. — a loira disse.
— Me perdi no conteúdo. — desconversou.
— Parece que o conteúdo tem nome, né? — foi irônica e percebeu que obteve resposta. — Ah, meu Deus! — exclamou um tanto alto e alertou o professor que a repreendeu com o olhar.
— Sua idiota! — a morena sussurrou em meio a uma risada fraca.
— E quem é o infeliz que está te deixando assim? — Chloe questionou curiosa.
null hesitou por um momento antes de soltar um suspiro pesado.
— Promete que não vai falar “eu te avisei”? — ela pediu.
— Não acredito que é o null. — a loira arregalou os olhos.
— Isso é a mesma coisa de falar eu te avisei. — murmurou.
— O que aconteceu entre vocês? — perguntou ansiosa.
— Ele me beijou — revelou.
— O quê?! — Chloe quase gritou, mas se conteve ao perceber o olhar severo do professor novamente. — Quando? Como? Por quê? — disparou as perguntas, mais curiosa do que nunca. — Por que não me disse isso antes?
O sinal disparou anunciando o fim da aula e null viu uma alternativa de fugir daquela conversa; olhou para a amiga com um sorriso nervoso e começou a recolher suas coisas. A loira, no entanto, não ia deixá-la escapar tão facilmente; a seguiu de perto, com uma expressão de quem não ia desistir até obter respostas.
— Você não vai fugir dessa conversa, null null. — disse, determinada, enquanto as duas saíam da sala.
— Não estou fugindo, Chloe Parker. — ela bufou. — Foi logo depois da nossa briga. Ele apareceu na minha casa para se desculpar e... acabamos discutindo mais. — disse baixinho, mexendo nervosamente no anel que usava no dedo.
— E então? — a amiga gesticulou com as mãos, pedindo mais.
— E então... ele me beijou. — falou rapidamente.
— null null finalmente tomou uma atitude. — a loira abriu a boca, surpresa, mas rapidamente fechou, tentando absorver as informações. — Mas como você se sentiu? — perguntou, tentando ser compreensiva e demonstrar apoio.
— Eu não sei. — admitiu. — Foi tudo tão confuso. No momento, fiquei com raiva e surpresa, mas... — respirou fundo, lutando para encontrar as palavras certas.
— Mas? — Parker arqueou as sobrancelhas.
— É como se, de repente, tudo mudasse entre nós e eu não soubesse como lidar com isso. — explicou.
Chloe assentiu, mostrando que estava ouvindo tudo atentamente.
— E o null? Como ele reagiu depois disso?
— Ele saiu correndo, praticamente. — null respondeu com um sorriso triste. — Acho que ficou tão confuso quanto eu. — baixou a cabeça. — Desde então, a gente não se falou. — deu de ombros.
Chloe olhou para amiga com de maneira astuta, tentando pensar em como ajudar.
— OK, null, aqui está o plano. — disse decidida. — Primeiro, você vai para a festa de amanhã. — interrompeu quando null abriu a boca para protestar. — Não adianta fugir, você precisa enfrentar isso. — levantou o indicador, silenciando a morena. — Segundo, vocês dois precisam ter uma conversa sincera. Nada de brigas, só conversa. — sugeriu.
— Eu já sei disso! Foi exatamente o que minha mãe disse. — concordou de maneira relutante. — Mas e a terceira parte do plano? O que eu faço depois Chloe? — perguntou, um pouco apreensiva.
A loira sorriu, parecendo satisfeita por ter capturado a atenção da amiga.
— Ah, essa é a parte divertida! — ela disse, piscando. — Você precisa se permitir explorar esses sentimentos, null. — levantou as sobrancelhas como se fosse algo lógico. — Não estou dizendo para correr e se apaixonar perdidamente por ele, mas você precisa entender o que está sentindo e por quê.
null assentiu lentamente, ponderando sobre as palavras da amiga. Era assustador pensar em enfrentar seus sentimentos, especialmente quando se tratava de algo tão precioso quanto sua relação com null. Poderia perder muitas coisas, mas perdê-lo seria como ter seu coração partido em pequenos pedaços e simplesmente os esmagá-los, em seguida.
— E se eu descobrir que estou apaixonada por ele? — ela perguntou, um pouco receosa.
— Não acha que o fato de me perguntar isso já não é uma resposta para o que tanto te aflige? — franziu o cenho.
null engoliu seco. Não soube o que responder. Chloe olhou para amiga com um olhar gentil, percebendo a vulnerabilidade em sua expressão. Sabia que null estava lutando contra sentimentos complicados, mas também via que já era hora de ela encontrar coragem para enfrentá-los.
— Mas se descobrir que está apaixonada por ele, então terá que decidir o que fazer com isso. — Parker tentou confortá-la.
— Eu odeio isso! — null choramingou.
— Eu sei, babe! — abriu os braços para acolher a amiga.
Chloe a segurou em um abraço reconfortante, sentindo o peso da situação que a mesma estava enfrentando.
— Sempre vou estar aqui! — Parker fez questão de lembrar o detalhe a sua amiga enquanto a apertava o máximo que conseguia.
As duas riram, sentindo um leve alívio no meio de toda a confusão emocional.
O dia da festa finalmente chegou e null se viu arrumando-se na frente do espelho nervosamente, tentando não pensar em como seria encontrar null lá, mas, ainda assim, com o sentimento de que isso aconteceria. Decidiu escolher um vestido que já havia usado em uma outra ocasião com o melhor amigo ao seu lado, um que fez com que ele perdesse o folego ao vê-la no ano anterior.
Enquanto isso, null se preparava para festa com um nó no estômago toda vez que lembrava que teria que enfrentar null e resolver as coisas entre eles, mas não tinha ideia de como fazer isso sem estragar tudo. O beijo que aconteceu entre eles tinha mudado tudo, e agora ele se via encarando emoções que nunca tinha admitido para si mesmo antes, mas que sempre estiveram lá.
Quando finalmente chegaram à festa, os dois trocaram olhares breves, mas não tiveram a chance de conversar antes de serem separados por amigos ansiosos para socializar. Conforme a noite avançava, eles se encontraram várias vezes pelo espaço da casa rodeada de jovens, mas sempre encontrando desculpas para evitar uma conversa séria.
Finalmente, em um momento de calma no meio da sala que mais parecia uma pista de dança lotada, a garota decidiu por encher a cara, virava o quarto shot de tequila, quando uma voz fez com que ela tornasse sua atenção para o dono da mesma.
— null, você está bem? — null perguntou, parecendo preocupado enquanto se aproximava por trás dela.
— Estou perfeitamente bem! — ela respondeu com um sorriso forçado. — Por que a preocupação repentina, null? Nem parece que passou a semana inteira sem falar comigo depois de me beijar e me abandonar sozinha no meu próprio quarto. — levantou uma das sobrancelhas.
null franziu a testa, notando a mudança no tom de voz dela.
— Você está bêbada, null. — ele disse com preocupação genuína.
— E você... — ele pousou o dedo indicador no peito dele. — É um covarde! — expeliu as palavras em um tom amargurado.
null sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras.
— Você definitivamente está bêbada. — sorriu sem graça, tentando disfarçar a frustração que o consumia.
— Bêbada ou não, eu sei o que estou dizendo! — ela retrucou, com um olhar carregado de raiva. — Você simplesmente me beijou e fugiu, e não é assim que as coisas funcionam entre amigos. — ela disse e depois pegou a garrafa de bebida à sua frente.
— Chega! — ele a impediu de colocar mais uma gota de álcool na boca. — Vamos para casa. — ele a pegou pelo braço com cuidado, guiando-a para fora da festa.
— O que você está fazendo? — soltou-se dele no meio da sala. — Eu não quero ir embora. — reclamou.
null suspirou.
— Confia em mim, amanhã você vai me agradecer por isso. — ele insistiu, voltando a segurar o braço da garota com firmeza, mas sem machucá-la.
— Eu não quero ir para casa! — ela protestou, tentando se soltar dele. — Eu quero dançar! — disse após ouvir a música que começara a tocar.
— Você quer dançar? — ele riu fraco.
— Sim! — a garota choramingou o puxando pela mão.
null olhou para null, balançando a cabeça ligeiramente, mas um sorriso se formou em seus lábios. Ele sabia que discutir com ela naquele estado não levaria a nada e, no fundo, também queria aproveitar aquele momento juntos, pois nem parecia que ela havia o chamado de covarde há alguns minutos.
— A sua sorte é que eu adoro essa música. — ele disse, cedendo.
Ela sorriu amplamente, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio, e o puxou para o centro da sala. A canção em questão que acabara de começar a tocar naquela hora era “yes or no”, do cantor Jungkook, uma mera coincidência quando ambos estavam em conflito com seus próprios sentimentos.
— This ain't another love song, baby, It's my way of putting feelers out. — null cantarolou enquanto a encarava.
— All the traffic in my head's going crazy, I'm gonna trust my heart right now. — ela continuou a frase que vinha em seguida.
null, tinha um sorriso travesso exposto em sua boca, conforme os dois dançavam, faziam movimentos diferentes e se divertiam. A batida da música preenchia o ambiente, fazendo com que os dois esquecessem temporariamente da tensão que esteve entre eles durante toda a semana.
A morena puxava seu melhor amigo para mais perto, dançando de forma envolvente, seus corpos movendo-se em sincronia com a melodia e a letra da música parecia traduzir exatamente o que ambos sentiam, como se cada palavra refletisse suas emoções confusas.
— Are you feeling the rush? — null sussurrou, sua voz quase se perdendo no meio do barulho, mas próxima o suficiente para que ela ouvisse.
— Are you thinking 'bout us? — ela cantou outra parte de maneira sincera, como se o perguntasse diretamente sobre seus sentimentos.
Então, ainda em uma tentativa de fingir que aquela pergunta não tinha nada a ver com o que estava acontecendo entre os dois, ele segurou a mão dela e a rodopiou e acabou ocasionando gargalhadas de ambas partes e alguns sorrisos singelos de pessoas que os observam indiretamente.
— Everybody in this club so faded, I'm trippin' over getting lost on you. — null começou a segunda parte da música. — If we forever started out as strangers, I think my ever after just came true. — ele arqueou as sobrancelhas como se estivesse dizendo algo lógico.
null parou de dançar por um momento, olhando-o intensamente.
— Você acha que se fôssemos estranhos, ainda teria me beijado? — ela o questionou sem arrodeio.
— O quê? — o rapaz retrucou sem reação.
null suspirou, sentindo o peso da dúvida e do álcool misturados em sua mente. Ela buscava alguma resposta, alguma indicação do que ele sentia por ela.
— Quero dizer... — ela começou, tentando organizar seus pensamentos. — Se não fôssemos amigos, se fôssemos apenas dois estranhos nos encontrando pela primeira vez, você ainda teria me beijado?
null ficou em silêncio por um momento.
— Sim. — ele disse nervoso. — Something about you... Do you feel the way I do? — cantarolou em meio a risadas desconcertantes sem tirar o olhar dela, pois também queria uma resposta, mas estava tímido demais para ser direto como ela.
A morena apenas sorriu.
— There's magic in the room... Tell me, what we gonna do? — null tentou seguir a linha de raciocínio dela através da música, porque falar sobre o que sentia também era difícil para ela.
A festa ao redor deles parecia desvanecer-se, deixando apenas os dois no centro da pista de dança, o clima que antes estava preenchido de tensão, agora dava lugar a uma mistura de desejo e incerteza, e o olhar intenso que trocavam era carregado de palavras que talvez sempre foram sentidas, mas nunca ditas.
— And are we falling in love? Say yes or no... — entrelaçou os dedos das duas mãos pelos cabelos dela. — Yes or no, yes or no... — ele sussurrou aproximando-se da boca dela e, em seguida, a beijando.
O beijo entre eles começou suavemente, mas rapidamente se transformou em algo mais intenso, como se todas as emoções reprimidas da última semana fossem liberadas de uma vez só. Os lábios de null pressionavam-se contra os dela com uma combinação de urgência e delicadeza, cada movimento carregado de significado.
null, sentindo o calor do corpo dele próximo ao seu, envolveu os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o ainda mais para perto, o que fez com que ele deslizasse lentamente suas mãos pelas costas dela, explorando cada curva, sentindo a suavidade da pele exposta pelo vestido.
Ela correspondeu com igual fervor, suas mãos descendo pelos ombros dele, sentindo os músculos tensos sob a camisa. Era como se ambos estivessem tentando memorizar cada detalhe, cada sensação, como se aquele momento fosse eterno, uma mistura de paixão, arrependimento e uma promessa silenciosa de que as coisas nunca mais seriam as mesmas entre eles.
— Finalmente! — Chloe gritou da multidão, fazendo com que ambos apartassem o beijo entre risadas e chamando atenção de algumas pessoas que estavam ao redor.
Eles se separaram apenas o suficiente para olhar em volta, percebendo que não estavam mais sozinhos no centro da pista, amigos os cercavam, sorrisos amplos e expressões de aprovação evidentes em seus rostos, como se houvesse mais gente que sabia que aquilo deveria ter acontecido antes.
— Acho que estamos chamando um pouco de atenção. — ela sussurrou para null.
— Só um pouco. — respondeu com um sorriso, seus olhos ainda fixos nos dela. — Vamos sair daqui por um momento? — ele questionou, inclinando-se para falar no ouvido dela.
null assentiu com seu coração batendo rápido, então ele a segurou pela mão e os dois começaram a se mover em direção à porta, abrindo caminho pela multidão de amigos que ainda os observavam com sorrisos e olhares cúmplices. Encontraram Jake pelo caminho, que definitivamente havia visto o beijo.
— Você é o cara! — o amigo piscou o olho para null. — E eu disse que eu era mais você. — sorriu, apontando para null que corou imediatamente.
— Idiota! — null retrucou de forma brincalhona e tratou de passar por ele rapidamente.
Após um tempo, os dois conseguiram finalmente sair do centro da festa e encontraram um canto mais tranquilo no jardim da casa em que estavam. O ar fresco da noite era um alívio bem-vindo, ajudando a clarear um pouco a cabeça da morena que olhou para seu melhor amigo, ainda sentindo o calor do beijo e o turbilhão de emoções que ele havia provocado.
— Então... — ela começou, sem saber exatamente como continuar a conversa.
— Tem certeza de que não está bêbada? — null estreitou os olhos para garota.
— Eu tomei apenas quatro doses de tequila, é necessário um pouco mais que isso para me derrubar. — a garota riu e ele acompanhou.
— Então tudo foi real? Você realmente quis? — o rapaz fixou os olhos nos dela.
Ela assentiu, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Eu sinto muito por ter te deixado naquela noite. — null hesitou, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu estava confuso e com medo do que tudo isso significava.
— Eu também estava com medo. — ela admitiu. — Nós sempre fomos melhores amigos e isso é tão estranho. — mordeu o lábio inferior.
— Eu sei. — ele concordou, segurando as mãos dela entre as suas. — Eu estava com medo de estragar tudo, mas a verdade é que... não consegui parar de pensar em você desde aquele beijo.
— E por que não disse nada? — null perguntou, substituindo a raiva que sentiu por uma vulnerabilidade curiosa.
— Porque eu não sabia como. — ele respondeu, dando um meio sorriso. — E porque eu estava com medo de perder você.
— null, você nunca vai me perder. — a garota franziu o cenho.
— Como eu ia saber? Arrisquei tudo o que tínhamos construído no dia em que te beijei. — engoliu seco.
— Eu entendo bem o sentimento. — ela balançou a cabeça devagar.
— Mas nós ainda estamos aqui, não estamos? — ele perguntou, olhando-a nos olhos em busca de uma resposta.
null assentiu.
— Mas o que somos? — indagou um tanto nervosa.
— A pergunta não é o que somos. — sorriu travesso. — Mas sim se você deseja ser minha a partir de agora.
— Sua? — ela disse baixinho, um tanto tímida.
— Está com vergonha? Do seu melhor amigo? — ele perguntou em um tom irônico, tentando esconder o sorriso por achar fofo ela reagir dessa forma.
Ela revirou os olhos, mas, não pôde evitar sorrir.
— Talvez um pouco. — ela confessou, brincalhona.
— Bem, então vamos fazer assim... — null começou, olhando-a com um brilho nos olhos. — A partir de agora, somos o que quisermos ser. Amigos, namorados, parceiros de crime... você escolhe.
— Parceiros de crime? Vai me ajudar a assassinar a Jennifer? — ela arqueou as sobrancelhas e null soltou uma gargalhada.
— Já está com ciúmes, senhorita null? — questionou em um tom de deboche.
null deu um leve empurrão em null, fazendo-o rir ainda mais.
— Eu estava brincando! — ela disse e deu de ombros. — Mas, pensando bem, talvez precisemos eliminar algumas barreiras, sabe? — disse, mordendo o lábio inferior de maneira provocante.
— Claro, parceira. — ele respondeu de maneira sarcástica, puxando-a mais para perto, seus braços envolvendo-a de forma protetora. — Vamos começar eliminando qualquer dúvida. — ele inclinou-se para beijá-la novamente e depositou um selinho demorado nos lábios da garota.
— Acho que a dúvida foi eliminada. — ela murmurou, com seus lábios roçando levemente os dele enquanto falava.
— Sim? — ele sorriu.
— Sim. — ela concordou.